sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Quando sepultam uma época,
O salmo fúnebre não soa,
Às urtigas, aos cardos
Caberá enfeitá-la.
E apenas os coveiros vivazes
Trabalham. As coisas não esperam!
E um silêncio, Senhor, um silêncio tal
Que se ouve o tempo passar.
Mas depois ela assoma,
Como um cadáver no rio primaveril, –
O filho, todavia, não reconhecerá a mãe.
E o neto desviará os olhos com enfado.
E as cabeças inclinam-se mais,
Como um pêndulo a lua move-se.

E eis – sobre Paris tombada
Agora um silêncio destes.


Anna Akhmatova
(tradução de Joaquim Manuel Magalhães e Vadim Dmitriev)
in Poemas, Relógio d'Água