terça-feira, 13 de outubro de 2009

Os loucos muitos
é a mão do sol
que lhes coça a cabeça
lhes estende o lençol

Passam coruscantes
com os seus cães atrás
a fazer os recados
que ninguém faz

Ou presos da miragem
à tarde estão
de cócoras redigindo
o pó do chão

Luiza Neto Jorge

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

O poema ensina a cair

O poema ensina a cair
sobre vários solos
desde perder o chão repentino sob os pés
como se perde os sentidos numa
queda de amor, ao encontro
do cabo onde a terra abate e
a fecunda ausência excede

até à queda vinda
da lenta volúpia de cair,
quando a face atinge o solo
numa curva delgada subtil
uma vénia a ninguém de especial
ou especialmente a nós uma homenagem
póstuma.

Luiza Neto Jorge
in Poesia, Assírio & Alvim

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Sempre me esforcei por escavar, não em busca de ouro, mas em busca de Deus; às vezes dava com um pedaço de céu [...]. Durante anos, passava as noites, sozinha, a ler em livros impressos no Além. Não como se costuma ler, linha após linha, mas perdendo-se por caminhos com as figuras das histórias das origens... Mais não pode o homem bíblico dar aos seus descendentes do que este chegar à luz pela palavra...

Else Lasker-Schüler
(tradução de João Barrento)
in Baladas Hebraicas, Assírio & Alvim

quarta-feira, 30 de setembro de 2009

imagino como seria te amar
teria o gosto estranho das palavras
que brincamos
__________________e a seriedade de quando esquecemos
quais palavras
imagino como seria te amar:
desisto da ideia numa verbal volúpia
e recomeço a escrever
_________________________poemas.

Ana Cristina César